Para entender por que Blockchain importa, temos que olhar para além da especulação selvagem, das criptomoedas, das maravilhas ICO, e sim observar o que está sendo construído por baixo, no ‘’subconsciente’’ de grandes máquinas virtuais rodando contratos inteligentes.
No fim dos anos 90, a internet passou a ser reconhecida pelo mundo como um meio de comunicação sem fronteiras, eficiente e que poderia gerar enormes vantagens competitivas e abrir muitas oportunidade para as empresas.
Que a internet é formidável, não há dúvidas, mas o problema que ocorreu nesta época foi a supervalorização deste meio de comunicação, gerando uma falsa ideia de que o mesmo seria um instrumento que poderia gerar uma quantidade de lucros ilimitada.
Por volta de 1999 começou, de fato, a migração das empresas para o âmbito virtual. Na época, as pessoas acreditavam que o fato de uma empresa ter um website, além de significar status e criar uma imagem mais moderna da mesma, era um passo revolucionário para o novo milênio. Assim, empresas, ONGs e outros tipos de organizações passaram a ter seus próprios espaços na grande rede.
Os recursos que eram destinados a outros setores foram redirecionados para o desenvolvimento de softwares, ferramentas e websites na internet. A questão do e-commerce trazia a imagem de um futuro de lucros absurdos. Um dos maiores símbolos desta febre foi a criação da Nasdaq, uma nova bolsa de valores voltada exclusivamente para a área de tecnologia. Também podemos citar a criação de grandes corporações, como no caso da reunião da America On Line (AOL) e Time-Warner, uma óbvia consequência do momento. Com tudo isso, os preços das ações das empresas “pontocom” explodiram positivamente.
Alguma hora a “bolha” iria estourar. Quando o mundo viu que a internet não era essa fonte ilimitada de lucros e que suas projeções estavam totalmente equivocadas, o preço das ações de empresas que atuavam na internet, que subia constantemente, passou a cair em queda livre, provocando a falência de inúmeras corporações.
Assim a bolha das pontocom dos anos 90 é popularmente vista como um período de excesso louco que terminou com centenas de bilhões de dólares de riqueza sendo destruídos.
O que é menos discutido é como todo o capital barato dos anos de boom ajudou a financiar a infra-estrutura sobre a qual as inovações mais importantes da Internet seriam construídas após o estouro da bolha. Podemos citar o lançamento do cabo de fibra ótica, P & D nas redes 3G e o desenvolvimento de fazendas de servidores gigantes. Tudo isso possibilitaria as tecnologias que são agora a base das empresas mais poderosas do mundo: pesquisa algorítmica, mídia social, computação móvel, serviços em nuvem, análise de dados grandes, inteligência artificial e muito mais.
Algo semelhante está acontecendo por trás da volatilidade selvagem e do exagero estratosférico do boom das criptomoedas e Blockchain. Ainda não podemos prever o que serão as indústrias blue-chip na tecnologia Blockchain, mas que elas existirão isto está garantido, mesmo porque a tecnologia em si é toda sobre a criação de um ativo inestimável: A confiança.
Para entender o porquê do valor inestimável da confiança, precisamos voltar ao século 14, nos dias de Luca Pacioli, um frade e matemático franciscano, que codificou suas práticas publicando um manual de matemática e contabilidade que apresentava “contabilidade de dupla entrada” não apenas como uma maneira de rastrear contas, mas também como uma obrigação moral.
Em 1494, Pacioli lançou seu “whitepaper”, conhecido como método veneziano (“el modo de Vinegia”) ou ainda “método das partidas dobradas”, e assim para tudo de valor que os mercadores ou banqueiros aceitavam, eles deviam dar algo de volta. Daí o uso de lançamentos de contrapartida para registrar valores de balanceamento separados, um débito combinado com um crédito, um ativo com um passivo.
Foi quando os comerciantes e banqueiros italianos começaram a usar o método de contabilidade de dupla entrada. Esse método, foi possibilitado principalmente pela adoção de algarismos arábicos, que proporcionou aos comerciantes uma ferramenta de manutenção de registros mais confiável e permitiu que os banqueiros assumissem um novo e poderoso papel de intermediários no sistema de pagamentos.
No entanto, não foi apenas a própria ferramenta que abriu caminho para as finanças modernas. Foi assim que foi inserido na cultura do nosso dia a dia.
A contabilidade moralmente pacífica de Pacioli concedeu uma forma de bênção religiosa a essas profissões anteriormente depreciadas. Nos vários séculos seguintes, os “livros limpos” passaram a ser vistos como um sinal de honestidade e piedade, fazendo com que os banqueiros se tornassem intermediários de pagamento e acelerando a circulação de dinheiro. Isso financiou o Renascimento e abriu o caminho para a explosão capitalista que mudaria o mundo.
No entanto, o sistema / método não era e nunca foi imune a fraudes. Os banqueiros e outros agentes financeiros anteriormente e frequentemente violam seu dever moral de manter livros honestos. Além disso, mesmo quando são honestos, sua honestidade tem um preço. Permitimos que instituições, gestores e gerentes de confiança centralizada, como bancos, bolsas de valores e outros intermediários financeiros, se tornassem indispensáveis, e isso os transformou de intermediários em gatekeepers. Mas atuam cobrando taxas e restringindo o acesso, criando atrito, monopolizando a inovação e fortalecendo seu domínio de mercado.
A verdadeira promessa da tecnologia Blockchain, então, não é que ela possa torná-lo um bilionário da noite para o dia ou dar a você uma maneira de proteger suas atividades financeiras dos governos intrometidos. É que isso poderá reduzir drasticamente o custo da confiança por meio de uma abordagem radical e descentralizada da contabilidade. Por consequência lógica, criar uma nova maneira de estruturar as organizações econômicas.
A necessidade de confiança gerada por intermediários, permite que gigantes da comunicação, da internet e do segmento financeiro transformem economias de escala e efeitos de rede em monopólios de fato.
Uma nova forma de contabilidade pode parecer uma realização sem graça. No entanto, por milhares de anos, voltando à Babilônia de Hamurabi, os livros razão têm sido a base da civilização. Isso porque as trocas de valores em que a sociedade é fundada exigem que confiemos nas afirmações recíprocas sobre o que possuímos, e o que devemos.
Blockchain (embora o termo seja usado de forma imprecisa e muitas vezes mal aplicado a coisas que não são realmente blockchains) é um livro caixa eletrônico, como uma lista de transações. Essas transações podem, em princípio, representar quase tudo, exemplo podem ser trocas reais de dinheiro, como são os blockchains que estão na base de criptomoedas como Bitcoin.
O que faz de Blockchain um tipo especial de “livro razão” é que, em vez de ser gerenciado por uma única instituição centralizada, como um banco ou agência governamental, este livro razão é armazenado em várias cópias distribuídas em vários computadores independentes dentro de uma rede descentralizada. Nenhuma entidade única controla o ledger. Qualquer um dos computadores na rede pode fazer uma alteração no livro razão, mas apenas seguindo regras ditadas por um “protocolo de consenso”, um algoritmo matemático que exige que a maioria dos outros computadores da rede concordem com a mudança. Uma vez que um consenso é gerado por esse algoritmo, todos os computadores da rede atualizam suas cópias do ledger simultaneamente.
Se algum deles tentar adicionar uma entrada ao livro razão sem esse consenso, ou alterar uma entrada retroativamente, o resto da rede rejeitará automaticamente a entrada como inválida.
Normalmente, as transações são agrupadas em blocos de um determinado tamanho que são encadeados, portanto cadeia de blocos ou seja Blockchain, os blocos são encadeados por bloqueios criptográficos, eles próprios um produto do algoritmo de consenso. Isso produz um registro imutável e compartilhado da “verdade”, considerando uma situação em que as coisas foram montadas corretamente, então não podem ser adulteradas.
Dentro deste quadro geral, existem muitas variações, pois existem “cadernos de blockchain” públicos, nos quais, em princípio, qualquer um pode pegar um computador e se tornar parte da rede, conhecido como nó na rede, estes são como Bitcoin e a maioria das outras cryptocurrencies. Existem também sistemas contábeis privados, que não incorporam moeda digital. Blockchains desta categoria podem ser usadas por um grupo de organizações que precisam de um sistema comum de manutenção de registros, mas são independentes umas das outras e talvez não confiem totalmente umas nas outras, um bom exemplo seria um fabricante e seus fornecedores.
Os benefícios desse modelo descentralizado emergem contra os custo de confiança do sistema econômico atual.
Considere o seguinte: em 2007, o Lehman Brothers anunciou lucros e receitas recordes, todos endossados por seu auditor, a Ernst & Young. Nove meses depois, uma queda nos mesmos ativos tornou o negócio de 158 anos falido, desencadeando a maior crise financeira em 80 anos.
A crise foi um exemplo extremo do custo da confiança. Mas pense em todos os contadores, que com seus cubículos preenchem condomínios corporativos em muitas partes do mundo. Seus trabalhos são conciliar os livros contábeis de suas empresas com os de suas contrapartes de negócios, existem porque nenhuma das partes confia no histórico do outro. É um processo demorado, caro, mas necessário.
Outras manifestações do custo da confiança não são sentidas no que fazemos, mas naquilo que não podemos fazer. Dois bilhões de pessoas têm contas bancárias negadas, o que as impede de participar da economia dita como global, porque os bancos não confiam nos registros de ativos e de validação de identidades.
Enquanto isso, a internet das coisas, que, espera-se, terá bilhões de dispositivos autônomos interagindo, forjando novas eficiências, não será possível se as micro transações entre dispositivos exigirem a intermediação proibitivamente cara de registros controlados centralmente. Existem muitos outros exemplos de como esse problema limita a inovação.
Esses custos raramente são reconhecidos ou analisados pelos economistas, talvez porque práticas como conciliação de contas sejam assumidas como uma característica integral e inevitável dos negócios.
A necessidade de confiança gera custos e a dependência de intermediários para fornecê-la é uma razão pela qual gigantes como Google, Facebook e Amazon transformam economias de escala e vantagens do efeito de rede em monopólios de fato. Esses gigantes são, na verdade, gerentes de registros centralizados, construindo vastos registros de “transações” naquilo que é, indiscutivelmente, a “moeda” mais importante do mundo: nossos dados digitais. Ao controlar esses registros, eles nos controlam.
A promessa de potencial para derrubar esse sistema centralizado e arraigado é um fator importante por trás da cena semelhante à corrida do ouro, que acontece hoje no mercado de criptografia, com seus preços crescentes, porém voláteis. Não há dúvida de que muitos, talvez a maioria, dos investidores estão apenas focados em ficar rico rapidamente e pensar muito pouco no motivo tecnológico importante existente.
Embora ainda existam grandes obstáculos a serem superados antes que os blockchains possam cumprir a promessa de um sistema mais robusto para registrar e armazenar a verdade objetiva. A boa notícia é que esses conceitos já estão sendo testados, esse fato sustenta um grande e diversificado ecossistema.
É uma mudança de paradigma, onde o código aberto de acesso livre é o alicerce sobre o qual a economia descentralizada do futuro será construída.
Empresas e Startups estão explorando a ideia de imutabilidade em projetos que buscam tornar as cadeias de suprimentos mais transparentes. Essa transparência também poderá dar aos consumidores melhores informações sobre as fontes do que eles compram, por exemplo se uma camiseta foi feita de forma sustentável.
Outra nova ideia importante é a de um ativo digital. Antes do Bitcoin, ninguém poderia possuir um ativo no mundo digital. O Bitcoin mostrou que um item de valor pode ser digital e verificável. Como ninguém pode alterar o livro-razão e “gastar duas vezes”, ou duplicar um bitcoin, ele pode ser concebido como uma “coisa” ou ativo exclusivo. Isso significa que agora podemos representar qualquer forma de valor, um título de propriedade ou uma faixa de música, por exemplo como uma entrada, melhor dizendo, uma transação em Blockchain.
Como itens baseados em software, esses novos ativos digitais podem receber certas propriedades, em outras palavras, o dinheiro pode se tornar programável . Por exemplo, vamos contratar e pagar o aluguel de um veículo elétrico usando tokens digitais que também servem para ativar ou desativar o funcionamento de mesmo veículo.
Esse cenário é bem diferente de tokens analógicos, como notas ou moedas de metal, que são “indiferentes” sobre o propósito para o qual estão sendo usados.
O que torna esses contratos ou dinheiro programável “inteligentes” não é que eles sejam automatizados, pois já vivemos dias onde temos isso quando nosso banco segue nossas instruções programadas para pagar nossa fatura de cartão de crédito todos os meses. É que os computadores que executam os contratos são monitorados por uma rede Blockchain distribuída. Isso garante que todos os signatários de um contrato inteligente sejam executados de forma justa.
O potencial oferecido quebra o avanço da “Tragédia dos Comuns”. A premissa é simples, o ecologista Garrett Hardin (1915 – 2003) argumenta que quando os recursos, naturais ou do trabalho, são compartilhados a tendência lógica seria o abuso por parte dos interesses individuais. “Tragédia” no título refere-se a um destino inevitável, o “comuns” a propriedade comunal típica na Idade Média, quando cada vila tinha seu bosque do qual dele os aldeões podiam caçar, coletar frutas e lenha, deixar os animais pastarem. O camponês que coloca uma vaca a mais para pastar tem uma vantagem imediata em relação a outros aldeões, mas também terá um prejuízo, pois no final, se todos compartilharem dessa lógica, o pasto comunal vai ser destruído.
O dinheiro programável e os contratos inteligentes constituem um meio poderoso para as comunidades se governarem na busca de objetivos comuns. Este novo cenário a pouco começou a ser construído, essa “economia simbólica” utópica e sem atrito está longe de ser realidade.
O boom das ICOs parece muito com uma bolha, mas em seu coração existe uma inovação genuína, a natureza de código aberto da tecnologia Blockchain, que gerou o valor crescente dos tokens, isso encorajou um grupo global de cientistas da computação, inteligentes, apaixonados e motivados financeiramente a superarem as limitações e as restrições iniciais vividas por qualquer inovação tecnológica.
É razoável supor então que constantemente a tecnologia vai melhorar, assim como vimos com a Internet, esses protocolos abertos e extensíveis podem se tornar plataformas poderosas para a inovação, mesmo porque a tecnologia Blockchain está se movendo rápido demais para pensarmos que as versões posteriores não serão melhoradas no presente.
As possibilidades, portanto, são imensas, pois Blockchain tem um potencial significativo para voltar a descentralizar a Internet, na medida em que distribui certas funcionalidades, que antes dependiam de intermediários centralizados, por toda sua rede de processamento distribuída.
Ao permitir o registro confiável, barato e seguro de transações de valores, Blockchain tem como primeiro beneficiado o setor financeiro. O investimento de bancos e instituições financeiras no desenvolvimento de aplicações em Blockchain já é uma realidade.
As aplicações financeiras Blockchain não beneficiam apenas os grandes bancos, entretanto, a tecnologia permite que qualquer pessoa consiga transferir valores para qualquer lugar do mundo com custos mais justos, virtualmente acabando com os elevados custos e complicações das remessas internacionais. Aplicações mais sofisticadas permitirão expansão e facilitação de microcrédito e consequente democratização do acesso a serviços financeiros.
O caráter disruptivo de Blockchain também é visível no cenário jurídico, onde diversos institutos burocráticos podem, num futuro próximo, virem a ser substituído por aplicações em Blockchain.
Toda a estrutura estatal de autenticação de documentos, títulos e propriedade pode ser simplificada, otimizada e/ou reduzida através das funcionalidades de autenticação inerentes à tecnologia. Por exemplo, ao invés de ter que recorrer a um cartório para autenticar o documento que estabelece o direito de propriedade sobre um imóvel, pode-se usar Blockchain para atribuir e autenticar a propriedade. Similarmente, um artista que quisesse provar sua autoria sobre uma obra não precisaria mais passar pela burocracia de registrá-la nos órgãos competentes: um registro Blockchain poderia servir como prova quase inquestionável de autenticidade, ou pelo menos de anterioridade, daquele trabalho.
No âmbito das sociedades, grandes complicações burocráticas também podem ser substituídas ou reduzidas através da tecnologia Blockchain. A plataforma Ethereum permite a criação de Organizações Autônomas Descentralizadas (Em inglês, Decentralized Autonomous Organization – DAOs), que permitem a criação de uma constituição societária, completa com atribuição de poderes sobre funções diversas (Por exemplo sobre as contas atribuídas àquela sociedade), divisão de cotas societárias e mecanismos de interação com terceiros.
Os Smart Contracts são contratos escritos em código de computador que diferenciam-se de suas contrapartes jurídicas por serem auto-executáveis. Isto é, uma vez aceitos, cumprem automaticamente o acordo estabelecido nas linhas de código, ou garantem que este seja cumprido. Então, por exemplo, um smart contract de compra e venda de um imóvel poderia tornar a transação tão simples quanto a compra de um quilo de carne no açougue: Uma parte concorda em transferir a quantia, a outra concorda em transferir a chave e imediatamente os valores e a propriedade são transferidos de forma autêntica, sem a necessidade de se fazerem alterações de registro em cartório para autenticar aquela transação. Cria-se, assim, o que se chama de “trustless trust”, um sistema que não depende de confiança entre as partes pois é confiável em si mesmo.
Essa autonomia do código, que leva a máxima de Lessig (“Code is Law”) a níveis completamente novos, pode facilitar ou mesmo substituir diversos mecanismos organizacionais que hoje dependem da burocracia para sua segurança e autenticidade. Ao mesmo tempo, adiciona uma inflexibilidade que não se tem com a interação humana, por mais engessado que possa ser um determinado procedimento burocrático, o fator humano ainda está presente e pode ser capaz de lidar com minúcias e detalhes que um código muitas vezes não será capaz de prever e solucionar.
Recentemente a ONU anunciou o desenvolvimento de um protótipo para combater a escravidão infantil em cooperação com a World Identity Network.
O projeto terá o armazenamento de dados de identificação digital em Blockchain, com isso ocorrerá uma melhora significante das chances dos indivíduos que vivem a mercê do trabalho escravo, de não serem “capturados”. A invulnerabilidade desses dados no registro permanente ajudará a acompanhar melhor o tráfico de escravos e prevenir isso efetivamente.
Os traficantes criam documentos de menores para atravessar fronteiras e envolvem crianças em atividades ilegais, incluindo exploração sexual e tráfico de órgãos humanos.
O tráfico de crianças é uma das mais graves violações dos direitos humanos, e a tecnologia Blockchain pode ajudar a salvar milhões de vidas.
Outros grupos de assistência já exploraram o uso de Blockchain para rastrear a ajuda às áreas empobrecidas. Criptomoedas também serviram como uma plataforma para facilitar as doações para uma variedade de causas, desde o acesso à água potável até o fornecimento de eletricidade para escolas.
E no que talvez seja o teste mais notável até hoje, o Programa Mundial de Alimentos (PMA), o braço de assistência alimentar das Nações Unidas, utilizou Blockchain Ethereum para autenticar e registrar transações.
O impacto potencial que Blockchain tem na melhoria dos Direitos Humanos em todo o mundo, desde a possibilidade de limitar a apropriação de terras até a interrupção do uso de drogas falsificadas ou contrabandeadas. Outros usos para Blockchain na melhoria dos Direitos Humanos fundamentais podem incluir a limitação da fraude eleitoral e a interrupção de outras formas de corrupção.
Esses exemplos são apenas a ponta do iceberg do que Blockchain é capaz. Todos os dias, empreendedores engenhosos estão descobrindo novos usos para essa tecnologia que podem potencialmente transformar nosso mundo como o conhecemos, desde melhorar a crise de refugiados até reduzir a escravidão e tornar nossos sistemas de votação mais seguros.
É um momento verdadeiramente emocionante para se estar vivo, e o futuro é brilhante, com inovação para melhorar a vida das pessoas em todo o mundo. Ao lidar com questões de corrupção financeira, política e institucional, isso tem o potencial de criar uma mudança social massiva e proteger grandemente os Direitos Humanos de cada indivíduo.
Mas os dias ainda são de “Black Mirror” e o poder de um livro centralizado criou monopólios de “gatekeeping” (é um conceito jornalístico para edição. Gatekeeper é aquele que define o que será noticiado de acordo com valor da notícia, linha editorial e outros critérios. Gatekeeper também pode ser entendido como o “porteiro” da redação).
Estabelecendo-se como o único intermediário da confiança, uma entidade cria poderes de monopólio para si mesma porque confiamos muito nesse papel. Um exemplo relevante é o que aconteceu na era da internet. Pense na Amazon, Facebook, Google, etc, como agregadores de dados. Eles têm que encontrar maneiras diferentes de “re-empacotar” os dados que obtêm, mas no final do dia eles estão no negócio de acumular dados da internet e vendê-los para outros, principalmente anunciantes. Eles exploraram a pura ausência de um sistema confiável e descentralizado de gerenciamento de confiança para a Internet.
Quando surgiu a internet, tínhamos esse sistema maravilhosamente descentralizado de compartilhamento de informações, mas absolutamente nenhuma capacidade de construir sistemas de confiança, porque nosso sistema anterior, que foi construído sobre identidade, não funciona muito bem. É por isso que temos todos esses avatares e bots e vigilantes explorando o sistema. Na economia de dados em que vivemos agora, os dados são uma moeda, assim podemos entender que o Facebook não é um serviço gratuito. Estamos pagando com nossos dados.
Passamos a viver em um mundo lógico que descansou sua fé em algoritmos e tecnologia.
A tecnologia Blockchain surgi como o cavaleiro da armadura brilhante durante tempos difíceis.
Blockchain serve como uma plataforma de contabilidade ou razão que é incorruptível, reforça a transparência e ignora a censura.
A mudança de paradigma que aos poucos é tema obrigatório nos grupos pelas esquinas, nos cafés de algum coworking, aparece dia sim dia não nas ciclovias e já é constante nos feeds mais antenados.
Blockchain muito debatido poderia ser a peça do quebra-cabeça que faltava para financiar novos negócios de baixo para cima. Isso envolve não apenas a aplicação mais óbvia, ou seja, moedas digitais, mas a oportunidade real de resgatar nossa Identidade, nossa Privacidade e nossas Propriedades.
Sempre lembrando que o modelo de identidade que tivemos até hoje, com instituições do Estado centralizando as informações pessoais dos cidadãos, mostrou que tende a se enfraquecer, pois a confiança nestas instituições diminui diariamente.
Também é noticiado todo dia que a Internet e a nuvem mudaram para melhor a vida das pessoas, porém colocaram em risco a privacidade das pessoas.
Propriedade é o direito natural que permite a uma pessoa a posse de uma coisa, em todas as suas relações como indivíduo, mas o cenário apresenta inúmeros intermediários entre nós e nossas propriedades.
Colocando Blockchain, aqui e agora, o que se tem de concreto em relação aos Direitos Humanos são os próprios Direitos Humanos.
Pois não basta entender superficialmente a tecnologia e também não basta entender profundamente a tecnologia. O momento é de entender e prospectar sobre o tema Direitos Humanos, na esperança que o advento de Blockchain possa gerar uma plataforma de confiança para os contratos inteligentes representantes dos Direitos Humanos.